Mundo digital: perigos para crianças crescem e projeto de “ECA Digital” avança no Congresso

A legislação também conta com apoio de uma nova CPI da Adultização, que investigará crimes virtuais contra crianças — como sexualização precoce, aliciamento e exploração de imagem.
Crianças usam tablets em colégio FOTO Divulgação Pref. Jundiaí
Crianças usam tablets em colégio FOTO Divulgação Pref. Jundiaí

Em artigo publicado no portal do Senado em 12 de setembro de 2025, especialistas e autoridades alertam para os riscos que crianças e adolescentes enfrentam no ambiente virtual — ameaças que vão desde vício em jogos, cyberbullying, sexting, aliciamento sexual on-line até desafios que estimulam automutilação e comportamentos extremos.

Casos de alerta e vulnerabilidades

Duas ocorrências recentes destacam o panorama dramático dessa realidade:

  • Em Ceilândia (DF), uma menina de 8 anos morreu após inalar spray de desodorante em desafio viral nas redes sociais.
  • Em Holambra (SP), um homem foi preso acusado de aliciar crianças em jogos on-line, oferecendo benefícios digitais em troca de material íntimo.

Esses episódios estão longe de ser exceção. O artigo relaciona múltiplas ameaças que compõem o “mapa de risco” digital infantojuvenil: interação com predadores, exposição sexual precoce, sextorsão, manipulação algorítmica, publicidades abusivas, deepfakes, entre outros.

Uma pesquisa da TIC Kids Online Brasil 2024 revelou que 29% dos jovens entre 9 e 17 anos relataram já terem sofrido situações ofensivas online — enquanto apenas 8% dos pais reconhecem essa possibilidade para seus filhos.

Entendendo as falhas de proteção

Especialistas como Rodrigo Nejm (Instituto Alana) afirmam que o mito do “nativo digital” — a crença de que crianças já nascem sabendo usar internet de forma segura — é equivocado. Ele compara a internet a uma cidade onde certas áreas são seguras, mas outras exigem supervisão ou não são recomendadas para menores sem acompanhamento.

Outro ponto defendido é que as plataformas digitais incentivam a participação infantil porque lucram com isso — mas não desenvolvem mecanismos eficazes de proteção automática.

Autoridades descrevem ainda as limitações atuais das leis: embora já existam dispositivos como ECA, Marco Civil da Internet e Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a rapidez das inovações digitais impõe lacunas. Para suprir essa falha, um novo projeto, o PL 2.628/2022, que cria o ECA Digital, está pronto para sanção.

ECA Digital: principais mudanças previstas

O novo marco propõe:

  • uso de plataformas digitais por menores de até 16 anos somente sob supervisão ativa de responsável;
  • exigência de ferramentas de controle parental eficazes;
  • remoção imediata de conteúdo abusivo ou sexual, sem necessidade de ordem judicial, a pedido de pais, entidades ou Ministério Público;
  • responsabilização de influenciadores, plataformas e empresas que expuserem crianças indevidamente, com multas que podem alcançar até R$ 50 milhões.
  • obrigatoriedade de as empresas cooperarem com solicitações de remoção e regulação do conteúdo nocivo.

A legislação também conta com apoio de uma nova CPI da Adultização, que investigará crimes virtuais contra crianças — como sexualização precoce, aliciamento e exploração de imagem.

O que aumenta a urgência

  • A velocidade das inovações digitais (IA, filtros, deepfakes) supera muitas vezes a capacidade legislativa de regulamentação.
  • As plataformas frequentemente alegam que remoções automáticas ou vigilância excessiva ferem liberdade de expressão, mas críticos destacam que essas justificativas servem para manter lucratividade às custas da vulnerabilidade infantil.
  • Autoridades afirmam que, embora os governos e escolas possam atuar com campanhas de educação digital e letramento, a verdadeira mudança depende de regulação obrigatória e responsabilização das empresas de tecnologia.

Por que essa matéria importa

A internet é parte inevitável da vida moderna — especialmente para jovens e crianças —, mas o ambiente digital precisa de regras claras e proteção integrada. O avanço do ECA Digital sinaliza uma tentativa de adaptar o arcabouço legal brasileiro às ameaças contemporâneas e garantir que o mundo virtual não seja mais inseguro que a vida fora dele.

LEIA TAMBÉM

Acompanhe o Pipa Notícias no Instagram

Últimas Notícias

RELACIONADOS